Na produção de bovinos a pasto, o período da seca é marcado pela menor oferta de forragem, consequência, principalmente, da redução das chuvas, do menor fotoperíodo e das quedas de temperatura (em algumas regiões do país). Com o objetivo de evitar a perda de peso nos animais ou mesmo promovendo desempenho durante este período mais crítico do ano, os pecuaristas costumam recorrer a investimentos em suplementação específica com tecnologias que maximize o aproveitamento dos nutrientes e/ou melhore a curva de ingestão de alimentos. 

O período das águas é conhecido por ser mais favorável à produção animal. Com dias mais longos, maior volume de chuvas e temperaturas mais altas, as plantas retomam sua máxima velocidade em crescimento e desenvolvimento, em um cenário totalmente favorável para produção forrageira. Esta combinação favorável de fatores, reduz consideravelmente o investimento dos pecuaristas no uso de suplementos proteicos, proteico-energéticos e rações. Porém, em contraparte a este costume de adoção de tecnologias em momentos desfavoráveis ao sistema produtivo, os estudos e pesquisas demonstram que apesar do aumento do teor de proteína bruta e dos nutrientes digestíveis totais do capim, o fornecimento de suplementação proporciona ganho de peso adicional dos animais. E o melhor: no período das águas estes ganhos adicionais tendem a ser superiores por unidade de suplemento fornecido quando comparado ao período de escassez de forragem. 

Mas primeiro vamos conhecer sobre os diferentes tipos de suplementação utilizados. A suplementação nesse período visa maximizar a utilização do pasto e fornecer nutrientes que equilibrem a dieta com as necessidades e manutenção dos animais como energia, minerais, proteína, entre outros. A prática mais comum durante o período das águas é o uso do suplemento mineral, o qual é formulado para conter macro e micro minerais que complementam o desequilíbrio de nutrientes das forrageiras e suprir sua exigência para ganho. 

Outras opções podem resultar em melhor desempenho dos bovinos quando comparados ao uso do sal mineral. Podemos citar como exemplo o mineral enriquecido, também conhecido como aditivado, (consumos aproximados de 0,05% do peso vivo ou 50 g/100kg). Este tipo de suplemento conta com um aditivo promotor de crescimento e com farelos em sua formulação para, conforme citado acima, garantir máximo aproveitamento dos nutrientes do pasto e ampliar desempenho dos animais, além de garantir consumo uniforme durante o processo. 

O suplemento proteico (consumo de 0,1% do peso vivo ou 100 g/100 kg de peso) é outra opção que permite um ajuste mais preciso no perfil protéico da forragem consumida, por isso é considerado ótima opção para animais em recria e que tem maior necessidade de deposição muscular. 

Ainda podem ser considerados os suplementos proteico-energéticos, com consumo variando entre 0,3% a 0,6%  do peso dos animais e que podem maximizar o desempenho na época da chuva, com resultados próximos a sistemas intensivos que promovem substituição de consumo de pasto pela oferta de rações concentradas como os conhecidos na pecuária como semi-confinamento. 

Porém, um ponto muito importante a se ressaltar é que, independentemente do sistema adotado, deve ser realizada uma avaliação criteriosa dos objetivos a serem alcançados e dos produtos a serem utilizados para tal planejamento. E, depois de implantado o sistema, uma coleta de dados e informações que permitam o gerenciamento da atividade para controle de custos e resultados. Variações podem ocorrer no consumo dos produtos por diversos fatores (como qualidade de mistura, ingredientes, frequência de oferta, estrutura de cocho, qualidade da água, distância entre cochos e bebedouros, localização dos cochos etc). Estas variações podem impactar significativamente no resultado final da operação e ser o fiel da balança entre o lucro ou prejuízo.

Desempenho de bovinos recebendo suplementação no período das águas

Animais em pastejo durante o período das águas, com fornecimento em torno de 80 g de suplemento mineral contendo macro e microminerais, normalmente, alcançam ganhos de peso médios superiores a 400 g/animal/dia. Para termos um valor de referência, suplementos aditivados (ou enriquecidos) podem promover em media 100 gramas a mais de desempenho diário, enquanto que suplementos proteicos entre 150 a 350 gramas e proteico-energéticos acima de 400 gramas a mais de ganho de peso diário por animal. Logicamente estes valores podem variar conforme os fatores envolvidos no sistema, mas servem como estimativas para desenvolvermos um planejamento de cenários. Dessa forma, qualquer alternativa de suplementação deve ser analisada para verificar a meta a ser alcançada. 

Fornecimento de 0,4% do peso vivo ao dia de suplemento proteico energético contribui com a disponibilidade de matéria seca e dos componentes morfológicos da forragem aos animais, que pode interferir no valor nutritivo da forragem. Animais recebendo suplementação de 0,6% do peso vivo podem obter ganho médio diário entre 0,970 a 1,06 (kg/dia), demonstrando o aumento no balanço e eficiência no uso do nitrogênio, o que implica em maiores ganhos e melhor utilização dos nutrientes consumidos.

Assim podemos afirmar que, apesar do aumento de investimento financeiro direto no fornecimento de suplementos proteicos ou proteico-energéticos, o ganho adicional promove um retorno na ordem entre 2 a 3 : 1, ou seja cada 1 real investido retornam 2 a 3 em ganho adicional direto. Sem contar o ganho no fluxo financeiro do sistema de produção, visto que o aumento no ganho de peso resulta na redução do período de engorda, o que ocasiona o aumento de animais abatidos ao longo da linha do tempo, considerando mesmo período. 

Considerações

A suplementação no período das águas para bovinos em pastejo proporciona incremento no ganho de peso. Entretanto, o modelo de suplementação a ser utilizado deve ser adequado às diversas variáveis do sistema alinhado ao objetivo final de desempenho, sem desconsiderar o gerenciamento da atividade como ponto fundamental para mensuração dos resultados e da geração de informações que norteiam decisões futuras e promovem melhorias. Para este último ponto, é recomendável a utilização de uma ferramenta de gestão que permita coletar os dados de maneira simples e relacionar os pontos de maneira a facilitar a gestão e maximizar o lucro da atividade e do produtor.   

Autoras:

Luana Molossi | Maria Theresa Fachini

AgriSciences | Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais (ICAA), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

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