Em boa parte do Brasil central, o período da seca é caracterizado pela redução da temperatura e luminosidade e pelo quase cessamento da precipitação das chuvas. Essas mudanças climáticas ocorrem todo ano, com maior ou menor intensidade, e afetam de forma variada a qualidade das forrageiras tropicais. 

Com a estabilização do período seco, as plantas mudam de aspecto, diminuindo a participação da fração verde na massa total disponível. Essa mudança associa-se com alterações marcantes na composição química da forragem disponível, a qualidade decresce em relação ao período chuvoso, sendo caraterizada principalmente pelo baixo nível de compostos nitrogenados ou proteína bruta e pela elevada lignificação da fração fibrosa insolúvel, ou seja, aquela que o animal consome, não utiliza no metabolismo, mas ocupa espaço no trato gastrointestinal.

Nessas condições, o que visualizamos é uma redução do consumo de forragem e isso implica em redução do desempenho, visualizado pela perda de peso em algumas categorias nos animais produzidos a pasto. 

Nesse momento, é importante entender que suprir deficiência dos bovinos na época seca é, em primeiro lugar, atender o sistema microbiano ruminal, que é onde o alimento vai ser primeiramente degradado e este sistema vai prover a maior parte da exigência de proteína verdadeira do animal (na forma de proteína microbiana) e também pela conversão da energia indisponível da fibra em energia prontamente utilizável pelo animal (na forma de ácidos graxos voláteis).

Partindo desse entendimento, pode-se concluir que as limitações iniciais são em relação ao crescimento microbiano no rúmen, ou seja, faltará proteína. Contudo, a população microbiana que utiliza primeiramente a forragem necessita de um teor mínimo de proteína para síntese de enzimas que são responsáveis pela degradação de compostos fibrosos.

Suplementando! 

Ao usar um suplemento mineral adequado e que atenda as demandas iniciais de proteína, o suprimento de energia será ampliado pela maior degradação da fibra, que pode evitar perda de peso, e dependendo do nível de inclusão na dieta pode até mesmo ampliar o ganho de peso. 

Essa seria a primeira etapa do planejamento nutricional de um suplemento na seca, que implica em efeito cascata no qual o suprimento de proteína amplia a digestibidade da dieta, que por sua vez amplia o consumo voluntário da forragem, culminando em ampliação do fornecimento de energia digestível e proteína microbiana para os animais. 

Após esse atendimento, a segunda instância nas deficiências nutricionais de bovinos em pastejo ocorrem a nível metabólico e envolvem o atendimento das demandas para ganhos mais elevados, ou seja, metas de desempenho superior.

Em resumo, a proteína deve ser considerada prioritária na correção das deficiências nutricionais na seca, e todo e qualquer sistema de suplementação deve ser planejado com base nela inicialmente. Em geral, podemos afirmar que suplementos são ferramentas extremamente flexíveis e que se encaixam de acordo com as metas de produção. 

Durante a seca podemos obter ganhos que vão desde a mantença até ganhos iguais ou superiores a 1 kg por dia. Lógico, vale lembrar que isso só será possível desde que haja disponibilidade de pasto e que considere a categoria animal, nível de investimento em suplementação e as metas do sistema de produção.

Níveis de suplementação 

Outro ponto importante é considerar que nem todo concentrado no cocho é considerado suplemento.  Devemos considerar que, teoricamente, os níveis de suplementação podem variar do 0 a aproximadamente 12 g de suplemento por kg de peso corporal. 

O nível “0” é teórico, pois consideramos que a correta mineralização é requisito mínimo para a produção. O outro extremo visualiza a otimização do uso do pasto e quando superior a isso, o concentrado passa a ter foco maior que o pasto.

Podemos então denominar os tipos de suplementos por um conceito de nutrição e produção com foco principal noperíodo seco. O primeiro seria o sistema sal-ureia, que seria a forma mais simples de suplementação múltipla na seca pela homogeneização de uma mistura múltipla mineral com ureia (10 a 40% da mistura final), e podem conter um palatabilizante para assegurar consumo mas sem nenhum objetivo de fornecer nutrientes. 

Em geral, sua maior restrição é exatamente sobre o consumo e sua utilização é limitada por esse fator, ou seja, não constitui suplemento para níveis elevados de ganhos.

sal nitrogenado consiste na homogeneização de mistura mineral completa, ureia e fonte de energia (normalmente grãos moídos, como milho). Reflete em consumo superior e em geral fornecidos na seca em sistema de auto regulação de consumo e em relação à opção anterior podem gerar ganhos maiores.

O famoso proteinado é a forma mais comum de suplemento utilizado na seca em sistemas tecnificados. 

Em relação ao nitrogenado, neste caso tem adição de fonte de proteína verdadeira, como farelo de soja ou algodão e ganhos moderados a médios podem ser obtidos quando utilizados em níveis de 3-5 g/kg de peso corporal. São úteis na fase de recria e fêmeas gestantes em sistemas mais intensivos.

Por último, os proteicos energéticos entram em sistemas intensivos que buscam taxas elevadas de ganho aos animais e são mais utilizados em terminação com ganhos superiores e em especial utilizados na segunda seca da vida do animal, mas não quer dizer que não podem ser utilizados na recria. 

Tudo depende de planejamento!

Independente do suplemento utilizado na seca, vale lembrar que a conformação, localização e espaçamento do cocho são essenciais par o bom manejo da suplementação. 

Cochos devem ser elevados do chão, se possível cobertos, construídos em locais secos e preferencialmente próximos a bebedouros. A forma de se fornecer também deve ser observada, e há basicamente 3 formas: auto regulação, suplementação diária e suplementação infrequente, tendo cada uma suas particularidades.

O importante é não deixar cocho vazio em programas que buscam suprir nutrientes independente da época do ano. A seca vai chegar sempre, como em todos os anos, então o importante é se planejar!

Autores:
Professora Cláudia Sampaio | Professor Edenio Detmann
Bovinocultura de Corte, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa

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