Considerando a estacionalidade na oferta de forragem disponível ao pastejo no Brasil, um dos maiores desafios dos pecuaristas é a redução do ciclo produtivo com aumento da produtividade. O índice intervalo entre partos em rebanhos de cria é um dos principais fatores que pode interferir no tamanho do ciclo pecuário. Esse índice pode refletir no geral a ineficiência reprodutiva dos rebanhos, como consequência do manejo nutricional ineficiente. Porém, nos últimos anos com a melhoria no acesso a tecnologias de manejo nutricional com a suplementação e uso de biotecnologias, o intervalo entre partos têm reduzido aumentando a produtividade do sistema.

Essa redução no intervalo embora seja positiva leva a um desafio maior aos pecuaristas, em especial os que trabalham com estação de monta curtas buscando intervalos entre partos menores e maior produção de bezerros. Nesses sistemas onde a estação de monta é realizada na época das chuvas, invariavelmente os partos ocorrem até o fim da seca, ou início da transição seca-águas. Sendo assim, o período de maior exigência nutricional das vacas de cria ainda gestantes ocorre no período de menor oferta de alimento, a seca. Esse período gestacional é complexo pois as exigências nutricionais da vaca gestante são consideráveis, é o período de maior crescimento fetal, e também é o período onde o consumo de matéria seca começa a reduzir por questões físicas e metabólicas. Sendo assim, o balanço energético negativo se torna inevitável.

Após o parto, a vaca deixa de usar nutrientes para a gestação, mas precisa ter nutrientes necessários para atender a lactação, com exceção das vacas primíparas que ainda precisam de nutrientes para continuar o crescimento pois não atingiram ainda o peso e condições fisiológicas na maturidade. Em média, o período de anestro fisiológico dura 30 dias, que compreende o período de involução uterina e retorno da atividade cíclica ovariana. Considerando a ordem de prioridade na partição de nutrientes, o retorno da atividade cíclica ovariana não é a prioridade para vacas lactantes, sendo assim, outras prioridades serão atendidas primeiro, como a mantença, a produção de leite e a tentativa de manter suas reservas corporais.

Portanto, em sistemas onde se deseja fazer estação de monta curta com foco também em intervalos entre partos curtos (12 a 14 meses) é comum encontrar vacas paridas com condição corporal inadequada à reprodução, que compromete consequentemente o retorno da atividade cíclica ovariana, refletindo na sua fertilidade e consequentemente na taxa de prenhez no início da estação de monta.

Em geral usamos o termo “nutrição como auxílio em protocolos reprodutivos”, porém, os protocolos hormonais como os utilizados em inseminação artificial em tempo fixo (IATF) podem auxiliar ao retorno da atividade cíclica em vacas que ainda não conseguiram sair do anestro, em especial aquelas com escore inadequado. Esses animais já podem estar em condição nutricional favorável, com melhor disponibilidade e qualidade de forragem pois em geral estamos nos referindo a protocolos aplicados na época das águas, mas ainda assim não conseguiram se recuperar para o retorno das atividades reprodutivas e como a meta é fazê-la emprenhar no início da estação de monta, auxiliar essa saída do anestro se torna viável.

Esse auxílio pode ser feito com uso dos protocolos hormonais, como os utilizados na IATF, ou até mesmo antes quando se utiliza a sincronização ou pré sincronização com uso de hormônios que têm como objetivo aumentar o número de animais cíclicos antes mesmo da IATF. De qualquer modo, estabelecer programas nutricionais em vacas gestantes, em especial no terço final da gestação contribuem para a manutenção do escore de condição corporal ao parto e um balanço energético negativo menos intenso. Isso pode contribuir a um retorno da atividade cíclica mais cedo e a uma maior produção de leite. Esses
programas nutricionais em geral são realizados com uso de suplemento proteico ou proteico energético no terço final da gestação e podem, em conjunto com protocolos hormonais como os utilizados na IATF resultar em mais animais cíclicos no início da estação de monta, como consequência maiores taxas de prenhez ao fim da estação.

Autora: Cláudia Sampaio – Professora Bovinocultura de Corte DZO/ UFV

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