Devido à grande extensão territorial do nosso país aliado ao clima tropical que favorece o crescimento das forrageiras, os sistemas de produção de bovinos a pasto podem ser uma excelente opção quando avaliamos custos diretos de produção e rentabilidade econômica devido, principalmente, à redução de custos com alimentação e infraestrutura. Entretanto, para que o pecuarista tenha sucesso nos sistemas de produção de carne a pasto, é necessário observar alguns pontos importantes. Primeiramente deve se certificar de que a pastagem esteja devidamente estabelecida, com o stand de plantas adequado por área, de maneira a garantir a capacidade de suporte e vigor de rebrota adequado. Verificado isso, devemos ter pasto em quantidade e qualidade suficiente para atender as exigências nutricionais dos animais que irão consumir aquela forragem. São pontos essenciais para garantir a produtividade necessária com baixo custo de produção.

Geralmente a falta de sucesso na implantação de pastagens forrageiras está associada à escolha de espécies não adaptadas ao tipo de solo e do clima da área. O produtor deve evitar querer o “capim da moda” e buscar orientação sobre a espécie mais adequada ao ambiente da sua propriedade. Para isso, a primeira dica é realizar uma análise de solo e averiguar principalmente o pH do solo (acidez) e quantidade de nutrientes disponível. Com o resultado em mãos, é possivel determinar ações corretivas para equilibrar acidez de maneira a disponibilizar nutrientes e garantir ambiente favorável ao desenvolvimento das plantas.  Outros fatores essenciais para se obter êxito na implantação das forrageiras é conhecer características climáticas, como o regime de chuvas da região e temperaturas médias. Isso porque temos especies que são mais tolerantes à seca enquanto outras suportam solos encharcados. Algumas podem ter níveis nutricionais melhores porém são mais exigentes quanto ao perfil e fertilidade do solo. Errar nesta avaliação e escolher espécies não adequadas podem significar perdas financeiras no processo de implantação ou exigir reformas constantes que também oneram o sistema produtivo.  

Outro ponto importante é promover a diversificação de espécies forrageiras na propriedade e, assim, minimizar os riscos ambientais além de atender as demandas das diferentes categorias animais normalmente presentes na propriedade rural. Esta diversificação favorece o aproveitamento da área para atendimento das diversas fases da atividade produtiva na pecuária como cria, recria, engorda ou silagem. Normalmente, espécies mais produtivas e exigentes em termos de manejo se adequam bem a sistemas intensivos de produção, já espécies mais rústicas conseguem atender os sistemas mais extensivos, que exploram solos mais pobres e de topografia montanhosa.

Quando voltamos os olhos para as características nutricionais de cada tipo de forrageira, os teores de proteínas e de digestibilidade são fatores que devem ser considerados, pois vão refletir diretamente no consumo e consequentemente no desempenho produtivo dos animais. Quanto maiores estes teores presentes nas forrageiras, melhores serão as respostas obtidas. Como já citado anteriormente, a escolha de espécies que apresentam maiores valores nutricionais (teor proteína elevado, boa palatabilidade e digestibilidade, entre outros) exigirá solos de melhor fertilidade e mais cuidados no manejo, porém será capaz de apresentar melhores resultados, além de ter maior capacidade de suporte (peso animal por hectare). 

Preparo e adubação do solo para implantação da forrageira

As operações de preparo do solo dependem da condição atual da área e devem seguir o planejamento previamente realizado, principalmente quando envolve a substituição das espécies forrageiras instaladas na área. Os procedimentos corretos de preparo são essenciais para prevenir degradação física, química e biológica do solo, além de otimizar as condições de cobertura mais uniforme das sementes e de germinação.

Para realizar a correção de fertilidade do solo, é essencial que se faça a amostragem representativa da área a fim de se realizar a análise física e química. Erros ou procedimentos incorretos de amostragem podem induzir a sub ou superdosagem de insumos e operações, levando a baixa produção ou a custos elevados e desperdício de recursos. As quantidades dos insumos a serem aplicados irão variar em função dos resultados da análise e da espécie forrageira que será implantada. A recomendação é que a calagem seja realizada preferencialmente em torno de 90 dias antes da semeadura. Já a adubação poderá ser realizada no momento da semeadura.

Em condições de clima tropical, o período de plantio pode ser realizado de setembro a março (período de início e final das chuvas). Plantios tardios (final do período das chuvas) podem comprometer a formação e a disponibilidade de pastagem a curto prazo. A semeadura pode ser realizada através de semeadeiras em linhas ou a lanço. O sistema de semeadura a lanço é o mais largamente utilizado com posterior incorporação da semente com grande leve (niveladora) ou rolo compactador. Outro detalhe importante a ser ressaltado é quanto a este procedimento de incorporação da semente (cobertura). Deve respeitar o tipo de semente para garantir que esta tenha proteção contra intempéries e ação de pragas mas que a mesma tenha sua força de germinação preservada para romper o solo.

Considerações

Para se ter sucesso nos sistemas de bovinos a pasto é necessário que a pastagem esteja devidamente estabelecida e em quantidade e qualidade suficiente para atender as exigências dos animais. Hoje o pecuarista deve-se entender como um “agricultor de pasto”. Pastagens bem formadas significam produtividade elevada e baixo custo de requerimento de estrutura de suplementação, além de permitir melhor planejamento de sua produção. Então, cuidar do pasto significa cuidar da rentabilidade de sua fazenda. Mas lembrem-se: não adianta querer o “capim da moda” – procure avaliar as condições de sua propriedade e busque a espécie que melhor se adapta ao seu sistema. Espécies forrageiras que apresentam maiores valores nutricionais exigirão solos de melhor fertilidade e manejo adequado, porém serão capazes de apresentar melhores resultados de ganho de peso, além de abrigar um maior número de animais por hectare. Espécies menos exigentes adaptam-se melhor em condições mais desafiadoras de ambiente mas tem maiores limitações quanto à capacidade de resposta produtiva.

Autoras:

Luana Molossi | Maria Theresa Fachini

AgriSciences | Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais (ICAA), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *